Diferença Ativa e Diferença Plana

Parte I:

Quando temos a comunicação entre formas heterogêneas de pensamento, criamos, artificialmente, um sistema, escravizamos o movimento eterno da diferença e relativizam-lo em uma série de sujeitos, tais sujeitos compõem uma rede de sujeitos, compondo nem tanto as fronteiras que definem o começo eo fim das estruturas particulares do pensamento, mas sim, os sujeitos, intensidades e movimentos, tais peculiaridades se tornam subjugadas a um formato alienígena ao movimento em si, o diferenciador.

O diferenciador é uma convenção do pensamento, do próprio movimento dele numa busca pelo estacionário, o diferenciador pode ser definido principalmente como a semelhança entre as séries e a identidade no agente que opera a comunicação.

O papel principal dentro da filosofia da diferença é: a formulação da epistemologia. A busca da gênese do o que forma a diferença, do o que forma um sistema, do o que difere um ponto A de um ponto B, ou, de uma forma melhor: “A experiência externa em relação à experiência interna.”

Parte II – Aristóteles e a Escolástica:

A principal e mais importante filosofia da identidade, mesmo em disputa, é a tradição Aristotélica. A leitura de Deleuze sobre a diferença de Aristóteles e seu diferenciador nos revela o seguinte: a separação entre a diferença individual i.e: “Sócrates é diferente de Platão” e a diferença unívoca ou de gênero i.e: “macaco é diferente da galinha”, Aristóteles nunca nos dá por si o que é a diferença, o diferenciador de Aristóteles se divide em duas partes, a lógica e a ontológica: a lógica é claro, que um objeto = x é diferente de um objeto = y, e a ontológica está a respeito de qual é o poder do objeto = x em relação ao objeto = y, se elevarmos a diferença lógica a seu limite máximo, por exemplo, quando reduzimos o ser deus em um mundo lógico, nada impede de que deus esteja ao mesmo lado de um ser humano, deus é proclamado, ele é criado dentro do argumento no mesmo nível que um ser humano, ele é logicamente num campo linguístico, um sujeito igual a o ser humano. Com esse problema em mente vem o segundo argumento dentro de Aristóteles, é a diferenciação ontológica entre um sujeito, a diferença dentro do indivíduo, a diferença que torna uma relação entre um ser infinito e um ser finito, torna o problema da univocidade algo individual, o homem é diferente de deus porque dentro de sua esfera individual, temos uma relação ou com a faculdade finita ou infinita.

As duas diferenças do sujeito, andam lado a lado, mas elas não realmente trazem uma diferença em si, não definem onde a diferença começa ou onde a diferença acaba, o diferencial na teoria aristotélica é justamente as relações do gênero com o indivíduo, ambas sê defendem num sistema ad hoc, as faculdades aristotélicas que separam o sujeito de um outro sujeito são a separação do indivíduo em relação ao gênero ontológico, fazendo assim “O Ser”.

Na filosofia escolástica, o que temos é o percurso (sombrio) de uma relação tripla:

· Diferença “A”.

· Diferença “B”.

· Diferenciador.

Tudo começa no contato da diferença “A” com a diferença “B”, como elas são vistas como objetos sem movimento, para a categoria entrar em contato com a outra categoria, entra o diferenciador como uma forma de ponte entre as duas diferenças. O diferenciador no caso, é a soma do argumento ontológico em “fusão” ao argumento lógico, ambos se sustentando em um sistema único (contando aqui que o próprio sistema também exerce a relação de objetos “A” e “B” em si), tal diferenciador, age como uma “ponta-de-lança” no caminho dentre a relação entre os objetos, medindo, calculando e agindo como ponte entre as duas diferenças.

O que separa o sistema de identidade de outro, é o tamanho da diferença interna (diferenciador) e da diferença externa (diferente). O tamanho da diferença e do diferenciador são infinitas e dependem do sistema a qual o autor está usando.

Exemplo do processo de diferenciação dentro da escolástica, com o argumento ontológico-lógico sendo representado pelo objeto verde e vermelho, circulando a diferença:


Resumindo nosso progresso até agora:

1. Possui dois tipos de diferença, uma existe dentro do indivíduo i.e: “Sócrates é diferente de Platão” e de gênero i.e: “Macaco é diferente da galinha”.

2. Essas duas não se misturam, tirando o caso de uma ser sinônimo da outra i.e: “Sócrates não é uma galinha (porque ele é humano, o Sócrates age como sinônimo de humano).

3. Para Aristóteles, os objetos da forma existem fora do indivíduo, tirando-os dentro da relação sinônima, elas se acoplam ao gênero, mas não são uma diferença geral. Os objetos não são definidos em si próprios.

4. Existem problemas dentro da Filosofia de Aristóteles, dentro da univocidade e da individualidade de um objeto, a univocidade, que deus e as pessoas são de mesma proclamação, que deus é criado, assim Aristóteles introduz as faculdades dentro do ser, sendo a diferença de poderes de um para o outro.

O resultado dessa “política de diferença” é o formato de gênero (usarei a palavra “genus” daqui pra frente) dentro das espécies, o “genus” de um grupo em relação a outro grupo. O maior exemplo disso é com certeza a separação da alma vegetal, alma animal e alma racional, ao qual separa os animais em seus gêneros. O conceito de “genus”, é, como qualquer conceito de definição, um objeto problemático, ele define o “genus” da seguinte forma em “Metafísica”:

“Não é possível que tanto a unidade ou o ser devem ser o “genus” das coisas, pois o diferenciado de qualquer gênero deve ter tanto o quanto é, mas não é possível para o “genus” ser predicado do diferenciado a parte das suas espécies, então tanto que a unidade ou ser é o “genus”, nenhum diferenciador vai ser ou é”.

O “genus” tanto é um ser quanto é a própria diferença dentro do ser, é o conjunto ontológico externo ao qual é aplicado a uma categoria de seres exibindo uma diferença entre si. Entramos agora no problema lógico dentro da formação da diferença aristotélica, sê gênero deve ser um ser ao qual as diferenças são aplicadas em formatos externos, o que concluímos é que o ser não pode ser a diferença, que não há um formato que separe o gênero que é a própria diferença. Separamos o ser da diferença, já que o que diferencia o gênero de outros gêneros não pode ser em si um formato de ser, logo, sê ser é um gênero, diferença não pode ser um gênero. A diferença só existe ao ser escrava do gênero, a diferença não existe dentro do projeto aristotélico, ela recai na extração de propriedades genéricas dentro de uma infinidade maçante de seres perceptíveis.

Para explorar mais esse problema, devemos pensar no o que é o ser total, o gênero máximo dentro do aristotelismo, o gênero total, o quadro em branco ao qual todos os seres podem ser classificados, dentro desse problema Aristóteles nota que as qualidades não devem ser administradas com características gerais de todos os seres, mas sim, aquilo ao qual “separa a essência do ser, do plano de fundo”.

O que Aristóteles faz, é, usar do gênero não como um objeto sólido ao qual é centro da diferença entre gênero e outro gênero, mas sim as relações quase que linguísticas entre o gênero “A” e o gênero “B”, nisso ele caracteriza três relações:

Homônimo – Quando a separação de um objeto a outro é uma relação somente relacionada ao seu nome, mas sua definição é diferente. Por exemplo: A foto de um animal e um homem, nesse quesito, ambos são animais, mas suas definições são totalmente diferentes.

Sinônimo – Quando o nome e a definição do objeto são ambos relacionados entre si. Por exemplo: Um animal e um homem, nesse quesito, tanto o animal como o homem são animais.

Parônimo – Quando algo tira seu nome de outra coisa, como por exemplo, o conceito de humanidade tira seu nome do conceito de humano.

Essas relações falham em criar alguma relação sinônima do gênero total de todo o ser, finalmente chega à conclusão de que o conceito ser em geral é uma relação parônima dentre vários tipos de seres, sem ter uma diferença como centro, somente sobrando a relação entre elas.

A separação de objetos em seus gêneros são características marcantes da filosofia da identidade, isso segue até a criação de Espinosa, ao qual o ser unívoco funciona através das suas qualidades e tendências, que criam o ser. Em Duns Scotus temos não um ser hierárquico como e Tomás ou Aristóteles, mas sim uma paleta de cores, do branco ao escuro, ao qual separa seres finitos ao mais infinito, tudo isso dentro de um gênero.

Bibliografia

DELEUZE, G. (1968). Diferença e Repetição. Paris: Paz e Terra.

HUGHES, J. (2008). Deleuze's Difference and Repetition. Melbourne: Continuum.

SOMERS-HALL, H. (2013). Deleuze's Difference and Repetition. Edimburgo: Edinburgh University Press.