Nietzsche Contra Marx:

Prefácio?

Eu não consigo descrever a filosofia de Nietzsche em mil palavras, nem mesmo em dez mil ou cem mil. Nietzsche é, sem sombra de dúvidas, um dos maiores monstros criados no século XIX, seu pensamento é uma confusão enorme de termos, alguns voltando um para o outro seja por significado direto ou indução, tudo acontecendo em um movimento indefinído.

Pegaremos por exemplo, a tentativa de Deleuze de explicar Nietzsche, Deleuze erra completamente em sua tentativa de explicar Nietzsche, não porque sua tentativa é falha, mas perde-se completamente a estrutura caótica de Nietzsche ao tentar explicar Nietzsche em pedaços, Klossowski tem maior sucesso na sua tentativa parcial de explicar o grande mistério que é a filosofia de Nietzsche. Não existem, entidades na filosofia de Nietzsche, existem arquétipos (Übermensch e Untermensch, que mais tarde segundo Fink, são conceitos abandonados em favor do Camelo, Leão e Criança. John Richardson coloca os dois conceitos em um só), mas não existem entidades, coisas estáticas, Nietzsche é uma interpretação "vulgar" de Heráclito, removendo o seu conceito de Logos e colocando a força-de-vontade do indivíduo em seu lugar, o encontro da Unidade na multiplicidade do mundo aparente é a principal ideia de Nietzsche, o devir absoluto é a sua arma secundária, o Eterno Retorno e o seu ateismo fervoroso são somente resultados de uma filosofia com bases definidas... Mas a genialidade de Nietzsche está na sua descentralização de sua filosofia, é verdadeiramente uma rizoma (termo deleuziano), os conceitos se encontram em mudança indefinida, várias vezes mudando de sentido, em harmonia ou desarmonia. Nietzsche é o nosso Xenófanes moderno, pairando dentre uma filosofia real e uma crítica social-religiosa. Além do mais, ele é o mais perto de um pré-socrático verdadeiro, mil vezes mais genial do que seus camaradas modernos como Emanuele Severino que reduzem a filosofia de Nietzsche somente a crítica social e recriam, errôneamente, o projeto de Parmênides (algo a qual Nietzsche criticaria ferverosamente) ou o projeto de Vattimo, ao qual Nietzsche é resumido a intepretação errônea niilista.

Nietzsche é tudo, ele mesmo conclui a profecia "O Super-Homem é tanto membro do Corpo de Oficiais Prussianos como membro da Ordem dos Jesuítas"

Consumo contra Desejo:

A maior semelhança dentre a filosofia socio-empirica de Nietzsche e a crítica de Marx a econômia e realidade burguêsa é a característica do "desejo-consumo", sendo em Marx transformado em uma necessidade ou consumo, e sendo em Nietzsche uma extenção da sua interpretação de Heráclito (Eterno Retorno) para um âmbito social.

(MARX)

O consumo aparece em Marx como uma relação dupla dentre produção e consumo[^1], a produção-consumo permeia a realidade do trabalho, ao qual cria as bases, para a fetichização geral da vida humana, as relações sociais são representadas por objetos ou conceitos.[^2]. Como Marx cita: "A produção não apenas fornece à necessidade um material, mas também uma necessidade ao material." O desejo assim, permeia toda a realidade e estrutura ao qual se encontram as relações sociais, o material por si só, cria a sua própria necessidade. A realidade, torna-se uma relação econômica, onde leis arbitrárias reegem aleatóriamente dentre si, os movimentos da mercadoria criam, assim, falso campo ontológico (físico-metafísico), que só será superado pela quebra transcendêntal de uma revolução, ao qual a reprodução do capital pela forma D-M-M-D e o trabalho produtivo são abolídos em total.

(NIETZSCHE)

A filosofia social de Nietzsche é baseada na inversão dos valores platônicos[^6], colocando a figura de Sócrates diretamente oposta ao ideal dionísico artístico. Nietzsche, na sua cruzada contra o platonismo, utiliza principalmente a interpretação vulgar de Heráclito, Nietzsche interpreta o todo social através do Devir Infinito, toda energia revolta ao seu próprio Ser.[^3] A estrutura social de Nietzsche é totalmente hierarquica, o Eterno Retorno passa desde a classe mais baixa com violência.[^4] Um bom exemplo para ilustrar tal passagem é o tratamento de sociedades com a moral em si, algo que anteriormente se concebia a realização pelo meio real, agora se concebe envenenadamente pelo meio transcendental. [^5]

Estruturas de Energia A estrutura social também é interessante de se observar ao comparar os dois filósofos, ambos possuem teorias de valor ou energia ao qual são abertamente contrárias

(MARX)

Marx vê a energia como uma característica econômica, de um campo menor, retornando a um campo maior. Marx coloca a imagem de Jesus num canto mais alto do que a imagem do padre: Da mesma maneira, na esfera religiosa, Cristo, o mediador entre Deus e os seres humanos – simples instrumento de circulação entre ambos – devém sua unidade, Deus-homem, e devém, enquanto tal, mais importante do que Deus; os santos, mais importantes do que Cristo; os sacerdotes, mais importantes do que os santos. A expressão econômica total, ela própria unilateral ante os extremos, é sempre o valor de troca, ali onde é posta como elo intermediário (MARX, Karl - Grundrisse, 414) A figura do trabalho mais "produtivo", sempre toma a centralidade no projeto marxista

(NIETZSCHE)

Para Nietzsche, a realidade estrutural é um devir absoluto, de uma comunidade atingindo diretamente a outra, o Devir social também cria a relação energética, de um campo maior se espalhando ao campo menor [^7]. A radicalização do projeto de Heráclito se extende a política, com uma sociedade se envenenando uma a outra no domínio completo do niilismo, passando do niilismo passivo ao niilismo ativo (aqui se encontra novamente a confusão de termos dentro da filosofia de Nietzsche). A sociedade se encontra assim, em um eterno Devir, tanto social como político, de energia igual (algo ao qual Marx renuncia, clamando que a distribuição do trabalho dentro da sociedade capitalista é por si só, desigual), essas estruturas sociais, sempre estão impostas do mesmo jeito, independente da situação ou contexto, é somente uma reação comum dentro da relação dialética e independente dentre a ação (judaismo) e a reação (paulismo), ou resentimento e paixão pela vida.

Conclusão? Estamos todos muito fudidos!